segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Sentimentos periféricos

Subúrbios de um dia qualquer
Solidão que está doendo à horas
Desvio do olhar ao distante
Momentos supérfluos para quem já não ama.
Nos passos delgados da incerteza
Diz-se um pouco do nada da nobreza
Mas só é nobre quem ainda tem algum sentimento
Um notório show de bater palmas...
Fingir para alguém e deixar só
Novamente se pensa nos subúrbios.
Tão devasso e esquecido na biboca dos males
Pobreza de espírito dormente
Já se foram os dias em que se podia pedir chuva
Antes era mais simples...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Soneto de uma valsa

O salão todo iluminado
Inicia-se uma música bela
Sendo que aquela
É a valsa de um apaixonado

Ele espera um certo momento
Que parece ser eterno
Num calafrio de inverno
Mas ela vem com o vento

Ele a pega pela mão
A corteja bem devagar
Leva-a para o meio do salão

E num sonho começa-se a dançar
Acompanhando as batidas do coração
E dizendo pra sempre te amar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Soneto curto

Num dia qualquer
Com chuva fria
A cabeça doía
Por causa de uma mulher

Tomou um remédio
Na rede deitou
O vento soprou
E quase morreu de tédio

A chuva foi embora
A dor ainda dói
E agora?

O moedor mói
Namora quem come amora
E então a ferrugem corrói.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Soneto poetizado

O poeta abriu seu livro sobre a mesa
Escolheu entre tantas uma caneta
Esboçou um borrão de letra
E escreveu algo para uma tal Maria Teresa

O que ele escreveu bem lá não se sabe
Mas está convicto do que quer alcançar
Pôs as palavras para entrelaçar
Pelo menos até que o poema acabe

E o fim está chegando
As rimas estão para se terminar
O livro está se fechando

Surge a última frase antes de tudo se acabar
E ela diz a tudo que está ventando:
“Teresa eu sempre vou te amar”.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Frio de inverno

Saudades de alguém que digo não ser muito mais do que tudo...
Profundo do mundo num só ser...
Andei vagando uns dias que nunca mais recordamos...
Dias frios, pois no inverno não há muito calor.
Mas, possa que haja haver amor.
Bem, andei num andar vago,
Buscando me livrar do sabor amargo,
Um certo sabor amargo que não continha nada mais que desejo
Desejo no viver cansado de buscar, calado,
A morte do dia e a noite no seu nascer pontilhado.
As trilhas que não se pode percorrer ainda estão intactas.
Quem sou eu para desafia-las?
Um mero nada escondido nisso tudo!
Mas as saudades se unem num único horizonte...
Horizonte meio escuro-claro...
O contraste ainda se fazia notar
nos riscos e rabiscos  das sombras de um papel sombreado.
Seria confuso, complicado e até desnorteante;
Mas eu ainda conseguia me lembrar de seu rosto lindo...
Dizendo-se lindo por ocasião de que não se perde os olhos de anjo.
Assim também se vê a auréola da eterna inocência,
Que de tempos em tempos se procura uma luz que brilhe mais que o sol.
As horas estão indo e vindo, findo.
Não tenho muito tempo pra dizer adeus,
Talvez isto seja apenas para os fortes...
Dizer adeus...
Ela ainda me espera?
Nem sei mais do que deveria esquecer
E que não se pode corrigir e nem emendar em um novo sentimento.
A saudade volta... nunca se foi mesmo.
Quero é querer um pouco mais do que nem sei do que quero.
Desespero não é uma palavra que deve ser usada aqui,
Mas irei usá-la com mais frequência na minha vida mundana...
Mundana não...
Enfadonha...
Perdida...
Enegrecida por anos inglórios.
Eu não devia tê-la abandonado...
Amo-a demais e grito meu desespero pelos ares de todos os ventos.
No fim fico rouco de poucas causas que talvez eu não saiba valorizar.
Agora ainda não é tarde, mas é frio...
Frio de inverno...
Talvez seja mais uma desculpa para voltar atrás e tentar  te achar
Mas esse meu querer te achar é infindo?
Ainda não sei o que deixaria de ser...
As mãos gélidas que não possuem luvas rasgadas pelo carvão obscuro
Estão definhando num apodrecer congelante.
Creio que já estou amargurado porque quero
Mas possa também que seja uma ressaca do mar...
O mar está tão longe e tão inalcançável para mim
Não sei porque ele existe
Finge não estar, resiste
Vai e volta, insiste
Volta e vai, persiste.
Metáforas de dores que talvez não sejam tão dolorosas
Parece que o mundo roda e sempre roda sem se importar com o resto
Não se faz nada, dorme-se no relento
Eu grito: te amo!
Palavras mal usadas, em vão
Vento não morno nem tão quente que não possa ser confundido com frio.
De novo o frio...
Frio de inverno.
Talvez as memórias estejam num guarda-roupas antigo e corroído pelos cupins.
Eu a amo, é o que basta?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Soneto miserável

No prato alguns grãos de arroz
O rosto meio amargurado
Na tristeza de tudo acabado
Com medo do que venha depois

Estes eram os últimos grãos que tinha para comer
A seca acabou com tudo o que possuía
Seu corpo então já percebia
Que restava pouco tempo para se viver

A poeira dizia em prantos
Que nem agüentava aquele calor
E os mortos debaixo de seus mantos

Refletiam da terra o seu sabor
Pedindo a todos os santos
Que os livre desta dor.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Um acontecido efêmero

Há momentos em que se deixa levar pelo vento
Num vento este de um ser sentimento
No peito da gente bate forte
Nesse querer bater tão de repente
Rápido, desnorteado e carente
Mas a carência diz se o porque
Um porque não se sabe explicar
Com esses dias na vida uma amizade
Daquele calar que faz bem e não tem saudade
Muitos se vão e poucos ficam
Ficando num canto de momentos únicos
Nestes momentos as dores vão embora
Fica-se só a boa hora
E muitos dias de um não clamor
Por fim se diz um amor
Aquele amor gostoso depois que o sol se vai
Ficam só as estrelas e um silêncio neste amar
Talvez só se aprenda a amar no dia em que não importa mais nada...
Tudo está bem se quem se ama está feliz
É como se o mundo precisasse daquele sorriso
Um sorriso e nada mais.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Num jardim está meu sonho

Acordei num desespero perdido
Numa vontade louca de viajar
Olhar pela janela, o sol nascendo
O coração batendo forte, mas tranqüilo
Vendo a vida correr pelos campos verdes
Com flores pequenas e perfumadas
Almas pedras ladrilhavam o mundo
Um mundo infindo e contínuo
Vontade de ir para um jardim
Encontrar meu ao pé de uma arvora
Sussurrar em seu ouvido: “eu estou aqui”
Vê-lo sorrir em pequenos gracejos não ditos
Depois olhar o pôr-do-sol
Lhe beijar de leve e esperar as estrelas surgirem
Ficaria nesse jardim para sempre
Pois o meu sonho está lá e tenho que ir encontrá-lo...

Cão

Amontoado num canto da rua. De longe pensava-se que era um de lixo. Passava horas assim, nesse canto. Considerava ali sua casa. Às vezes se dispersava com algum gato que lhe cruzava o caminho, uma das poucas ocasiões em que se movimentava com o fervor de um filhote. Mas logo se cansava e voltava para o seu lugar. Não passava fome. O dono do restaurante sempre deixava algumas sobras depois do almoço e do jantar. Sofria na chuva. Tremia no frio. Pior era frio com chuva. No verão o sol lhe torricava as orelhas. Gostava daquilo. E a vida continuava.
                Toda manhã ele acompanhava, como os olhos, aquele gente que tinha pressa. Não entendia o porquê. Imagina que estavam distribuindo comida à vontade. Mas não! Esses seres eram estranhos. Se alegravam com papel; o mais engraçado é que existiam uns bobões que trocavam esse papel por objetos grandes e muitas vezes bonitos. Que idiotas. Ria na sua risada mental. Passava a língua pelos dentes e depois tocava o focinho no chão. Encolhia-se todo, abanava um pouco o rabo, só para espantar as moscas e depois virava para o lado e dormia. Vida boa. Barriga cheia e um canto para dormir. Precisa de mais?
                De tarde resolvia dar um passeio. Nada grandioso. Uma volta no quarteirão ou, quando muito, subia o morro, mas só voltava depois de muito tempo, quando toda a fadiga se extinguia. Era neste horário que as pessoas voltavam para suas casas. Não conseguia entender o porquê que iam tão devagar e tristes. De manhã eram tão rápidas e... bicho estranho. Além de andar em duas patas, necessitava de uma outra pele para se aquecer, pois não tem pelo suficiente. Era impossível que vivessem tantos anos. Estranho, bicho muito estranho.
                Voltava para o lar e ficava ansioso para que o cozinheiro lhe levasse um pouco de comida. Não precisava de mais nada.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desgosto do gosto

Sou uma pessoa que ama desgostando
Desgostando por amar, nunca querer odiar
Gostando pouco, às vezes muito
Fingindo não doer no desgosto
e carência no gosto
Pouco por pouco nessa esquecida desgostosura
Tendo muito ou nenhuma compostura
Vulgariza-se o gosto de sonhar
e o desgosto de acordar
Amo esse gosto de desgostar
Desgosto desse gosto de amar
Verbos do infinito me desgastam
num desgastar desse querer valorizar
Gosto do sal na boca
Desgosto da vontade de beber água que vem depois
Igarapés na curva pro rio
Um dia eu desgostei
e voltei a gostar de novo
Redesgostar...
*Dedico a Isadora Grubert

Perfume

Um leve beijo no rosto de um eterno anjo. Assim definiu aquele momento com uma certa mulher. Estava embriagado pelo sentimento dos que apreciam a lua, e muito mais que isso. Possa ser que se achava em seu paraíso pessoal. A terra não é o bastante. Era um aviador de impossibilidades concluídas. Que se achasse o tesouro mais valioso do mundo! O que importava?! Não precisava de mais nada... Ah, vida.
                E o dia foi festa. O chefe o mandou fazer o relatório da semana mais a ata da reunião. Tudo bem. Mais tarde o seu computador pegou um vírus que danificou a memória, fazendo com que perdesse o trabalho de três anos. Que dia lindo! Foi até maravilhoso rasgar a camisa no corrimão da escada do metrô.
                No sábado o reencontro tão esperado. Ela com um vestido verde esmeralda, o cabelo em um coque dourado, e aquele perfume de flores silvestres... Inesquecível. Sentou-se em sua frente. Pediram alguma coisa para comer. Beberam um vinho branco. Ele a olhou profundamente, como se quisesse fotografá-la com sua mente. O que foi? Os olhos o encarando, como se quisessem algo em troca. Nada. Ela sorri. Olha para baixo, finge um constrangimento, depois volta a encará-lo. Um leve tremor surgi em seus lábios. Para ele, tudo aquilo é único; não existe nada igual.
                As horas vão passando. Pra variar, a lua cheia surge. Cria sua luz para os apaixonados, ou apenas para clarear as idéias lunáticas; o mais certo é que controla a maré. Decidem caminhar um pouco. Ela olha para as estrelas, raras numa cidade grande e depois voltasse para ele. O breve silêncio antes do beijo. Devagar, imaginando que aquilo era a felicidade. O perfume dela fica mais forte quando ele toca a sua pele. É o seu êxtase. Vai lhe dominando lentamente, de modo que intoxica suas veias e o deixa com seqüelas irreversíveis. O que importa? Os olhos continuam fechados mesmo após o beijo acabar. Não precisa vê-la, apenas aquele perfume já lhe permitia saber o que realmente queria.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Preconceito

“Fernando”
                Esta voz lhe soou profundamente naquele êxtase de reflexão. Levou algum temo para se dispersar do que estava observando, e só depois é que conseguiu olhar para trás. Não havia ninguém. Talvez fosse apenas sua imaginação, sua cabeça estava cansada, oscilava para os lados. Sentou-se no banco. Esquecera da tinta fresca. Agora era uma preocupação tardia, mas já era bastante inconveniente reclamar de sua burrice. Soletrou alguma palavra, só por diversão, e depois cantou qualquer coisa bem baixinho. Um sussurro. E fim nisso. O celular tocou. Esperou o quarto toque e atendeu. Quem não era? A mãe, a tia, o avô. Sou eu, meu bem. O que você está fazendo? Acabei de acordar e não te encontrei, sabe? Sei. E aí resolvi te ligar para saber onde você está. Ah... E onde você está? Eu? eu estou aqui na praça, dando uma olhada no jardim. Vê se não demora que eu estou com saudade. Tudo bem, daqui a pouco eu já vou. Estática na linha. Guardou o celular no bolso. Olhou a camisa manchada e quis xingar. Xingou. A boca às vezes serve para alguma coisa, isto é, quando um homem não sabe o que quer.
                “Fernando”
                Levantou-se de uma vez. Estava ficando louco, não era possível! Duas vezes alguém lhe chama, mas quem seria? Meditou um pouco, O que havia esquecido aquela manhã? Não se lembrava. Mas parecia algo importante. Resolveu voltar para casa. “Fernando”. Mas que diabo! Quem era esse Fernando? Correu um pouco e lá veio “Fernando”. Estacou. Beliscou-se. Risadas. Ele é que era Fernando. E qual era o problema mesmo? Ah, sim. Alguém o estava lhe chamando e ele não sabia quem. Desesperou-se e meteu a cabeça num poste, Desmaiou, Acordou com uma baita dor de cabeça e foi embora. Chegou em casa. Nossa, o que aconteceu? está com a testa roxa! É que eu fui assaltado... Assaltado? mas como? Ah, ninguém têm mais respeito pelo próximo. Eu te avisei para não ficar andando por essa periferia; lá só tem bandido! Está bem, é melhor esquecermos isso... Não! vou ligar pra polícia e é agora. Não precisa... Precisa sim! e o que foi que eles roubaram? Foi aquele relógio que eu comprei no camelô. Mas ele está em cima da mesa, você o esqueceu pela manhã, eu acho. Não, mas foi o outro. Que outro?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Soneto filosófico

Numa filosofia antiga
Se inicia um debate social
Com palavras do irreal
Joga-se xadrez na intriga

Surgi faíscas no embate de pensamentos
Cada um impõe sua razão
Dizendo ser sim ou não
Numa trama de regimentos

Na idéia iluminada
Tende-se a temer o resultado
Pois numa ação alucinada

O destino é atropelado
Alguma coisa diz-se renegada
Num discurso acabado.